quinta-feira, 29 de novembro de 2007

"quase tudo"

Só pra dizer que mesmo que ninguém leia o que estou escrevendo aqui, pra mim tá valendo muito a pena. É o espaço que eu precisava para a catarse.
Hoje mesmo tô gripada, cansada, enjoada; tô chata.
Mas consegui dividir meu dia de forma que fiz "quase" tudo o que eu queria fazer.
Fim de ano é um bom momento pra mudança e eu estou esperando o momento pra fazer essa mudança. Falta tempo. Sinto uma reviravolta dentro de mim.
Sabe, percebi hoje que estou fazendo muita coisa que não é trabalho e que me dá prazer, mas as pessoas ao meu redor pensam que eu só vivo para o trabalho. É que eu tenho uma vida secreta. uma vida dentro de outra vida.
Sou aquariana. Li num desses tablóides que daqui a 50 anos o mundo pensará como uma aquariana. Coitado do mundo. Sou muito sem preconceito, sem limites e sem vergonha para sobreviver. Se o mundo pensar como eu, ricos comerão na mesa de pobres; negros se casarão com brancos; gays e lésbicas se casarão na Igreja; a Igreja Católica me excomungará e a Protestante dirá para eu me arrepender. Vai ser tudo tão simples.
Mas eu duvido, porque como boa aquariana, sou também bastante crítica para notar que nada é tão simples assim e que o poder é opressor e não vai soltar suas garras em nome de algo chamado harmonia, que igualará os homens e trará paz e consenso à Terra. Utopia.
Mas vou revelar parte da minha vida secreta: estou cantando num coral e vou me apresentar agora em dezembro pela primeira vez; além disso, estou me ferrando para aprender Francês, uma língua que amo. O resto não posso revelar, só com um chazinho, terça-feira à noite.
Au revoir/Hasta la vista

Medo de Morrer

Obs.: Esse texto foi escrito há dois anos, já passou.

Quando a gente é jovem pensa a vida como inesgotável; é destemido, voraz e impetuoso. Eu me lembro que, quando era adolescente e me perguntavam se tinha medo de morrer, eu respondia que não. Que tinha apenas medo de que morressem as pessoas que estão ao meu redor.
Pois é, continuo com medo de perder as pessoas que gosto, mas tenho também medo de perder a minha vida. De uns tempos pra penso muito na minha morte. Vivo um enorme conflito. Quero viver muito, mas às vezes penso que deveria morrer logo para ver como é que é e acabar com esse medo. Tenho medo de morrer de câncer de mama, de colo do útero, de pele, de intestino, de estômago; tenho medo de ter hepatite (A,B,ou C) e morrer; tenho medo de contrair AIDS. Morro de medo de doenças terminais. Acho que é porque perdi duas amigas com câncer e vivo ouvindo pessoas falarem sobre o assunto. O fato é que tenho muito medo de deixar a vida escorrer pela minha mão. Não tenho medo de ser vítima de violência, ser atropelada; mas tenho medo de estar num avião e ele cair ou de sofrer um acidente de carro.
Meus medos são estranhos. Acho que li muita coisa sobre a vida de Manuel Bandeira, sua experiência com a tuberculose na adolescência e sua vida atribulada com medo da morte. Me identifiquei muito com Cazuza, não sei porque e às vezes absorvo a solidão dos poetas e fico me amargurando pensando na morte. Antes tinha uma sensação de que ia morrer jovem, aos quarenta anos. Agora estou a dois meses de completar quarenta e não quero morrer. Ao mesmo tempo pensava que ia viver com medo de morrer e a morte só me visitaria aos 100 anos. Sei lá. Mas é engraçado pensar na própria morte.
Eu não sei se estou cansada ou se estou tendo uma percepção de futuro, mas o fato é que pressinto o fim e isso me assusta. Mas talvez seja o fim de uma fase maravilhosa da vida da mulher: o fim do período fértil, o fim da capacidade de engravidar, de dar a vida em vez de pensar na morte. Talvez eu pense tanto na morte porque não tenho uma vida para cuidar. Cuidar da nossa própria vida é cansativo, é egoísta, me dá medo. Queria ter uma outra pra quem me dedicar, uma pequena vida que dependesse de mim e assim eu não ficaria pensando tanto na minha própria morte: teria uma vida para dar continuidade. Acho que a vida só tem valor assim e isso me deixa muito preocupada.
O que será de mim na velhice? Sem filhos, sem amor, sozinha... Talvez a morte realmente venha antes para mim, porque viver mais quarenta anos frustrada por não ter feito algo que se queria muito fazer é uma droga de vida, melhor morrer. Mas falar sobre a morte é interessante, escrever sobre ela é um ato de análise psicológica, é uma catarse fantástica, pelo menos parei de pensar nela.
O MUNDO DELE


Demorei a escrever não porque não tinha o que dizer, mas porque fiquei observando as transformações pelas quais passou esse menino danadinho. Era o patinho feio. Nasceu entre pessoas que admiram a beleza física principalmente e foi visto logo como feio. Cabeludo, cabeção, sisudo. Era feio.
Pelo menos é quietinho, diziam uns. Outros pensavam: é muito amoroso. Como se esses elogios compensassem o ser feio, para aquela pequena criatura, que não sabia para o que foi posta no mundo.
Foram tantas mudanças na vida desse sersinho que não sei como ele sobreviveu: nove meses com uma mulher, seis com outras, dois anos com duas mães. Um dia, uma dessas mães teve que abandoná-lo. Ele sofreu muito e ela também. Dormiam juntos, eram muito apegados, grudados. Quando ela se foi, ele passou dias andando à noite sem querer dormir com a mãe ou sozinho. Começou a ficar agressivo, arredio, triste. Ninguém entendia o processo desse menininho.
Curioso que ele é um doce menino. Sensível, cuidadoso com sua irmã e mãe, dócil e meigo. Tem os atributos que a sociedade patriarcal só permite pertencer à mulher. Mas se depender de mim ele vai ser sempre assim. Não será esse macho latino, grosso e insensível.
É um garoto incompreendido. Faz manha para conseguir as coisas, é muito ciumento, mas muito generoso. Sempre que ganha algo, imediatamente pergunta se não tem igual para sua irmãzinha. É um anjo incompreendido. Acho que vai sofrer na mão dessa mãe pirada que ele tem.
Ele é tão magrinho, mas está crescendo e acho que vai ser um garoto muito forte porque gosta muito de lutar, de fazer atividades físicas. No início me chamava de Teté, agora está me chamando de tia Teté. O que será que mudou na sua cabecinha? Será que quando for de vez para Salvador e eu ficar morando aqui vai sofrer muito ou vai esquecer rapidinho e começar vida nova? As crianças são tão surpreendentes, tão fortes. Eu agora sei tão pouco dele, a não ser o que a mãe me diz ou o que vejo nas poucas vezes que nos encontramos nos finais de semana.

O prazer de chorar


Mulher é mesmo uma besta: chora por tudo. Chora quando está triste, quando está alegre. Quando nasce um bebê; quando morre alguém. Quando assiste a um filme romântico ou a um documentário sobre as crianças que morrem na África.
Choramos quando as lembranças são boas, quando as lembranças são ruins. Nos debulhamos em lágrimas quando estamos longe de quem gostamos e derretemos de emoção quando estamos por perto.
É o mundo dos hormônios. Dizem que eles são os culpados. A TPM nos faz chorar; o anticoncepcional nos faz chorar; a gravidez nos faz chorar. A Lua nos faz chorar. E não é por ser linda tão somente, é porque ela tem poderes sobre as águas dos mares, os ventos, os rios e sobre as mulheres.
Mas há uma coisa que só nós mulheres sabemos. É um segredo encantador. Os homens choram com muita dificuldade quando sofrem algum abalo emocional: alguma derrota ou alguma vitória; algum ganho ou alguma perda. É só nestes momentos que eles têm o prazer de chorar. É disso que estou falando: do prazer de chorar. Da imensa alegria de poder colocar pra fora em qualquer lugar suas lágrimas, por qualquer razão, sem se preocupar se vão pensar alguma coisa de você.
Eu já chorei muitas vezes no cinema. Quando era mais nova, chorava e escondia que chorava. Era o medo de mostrar que era um prazer chorar. O filme me comovia por muito pouco. Até o tamanho da tela me emocionava.
Em enterros, mais rio do que choro, porque fico nervosa. No enterro do meu pai chorei mais do que todos os filhos, do que minha mãe. Chorei consternadamente a perda do meu ídolo inexplicável, cheio de defeitos e falho. Chorei a falta do meu reflexo no espelho.
Choro no trânsito, sozinha, ouvindo uma música triste ou lembrando uma pessoa amada. Choro e vejo as outras pessoas me olhando com uma interrogação: por que será que ela está chorando? Choro de ficar vermelha, de molhar a blusa de tanta lágrima que escorre.
Choro sozinha em casa. De saudade dos amigos, da família, do passado e até do futuro. Tenho uma coisa com o futuro que não sei explicar, mas pressinto-o vindo de uma maneira leve, surpreendente, manipulando o meu presente e choro.
Choro quando vejo meus sobrinhos crescendo. Quando olho e vejo que muitos dos jovens que hoje são adultos foram crianças que eu carreguei no colo, amei, beijei, cuidei. Eles nos mostram a passagem do tempo e eu choro. Mas não é um choro de tristeza, é nostalgia, é gratidão a Deus por ter me permitido viver todo esse tempo pra ver isso.
Choro quando leio um livro. Ler um livro é um ato de coragem para mim. Adoro ler, mas parece que o tempo não quer que eu leia. Então quando começo a ler um livro e chego até o fim, tenho uma impressão de satisfação que chega às lágrimas. É uma paixão comovente. Nunca posso dizer que nunca me apaixonei. Sou louca pelas histórias dos livros, assim como sou louca pelos poemas dos poetas. Adoro o texto artístico e esse adorar me leva às lágrimas.
Falando em paixão, choro quando estou apaixonada e quando estou querendo ficar apaixonada. Sempre gostei desse estado de espírito: estar apaixonada é estar em transe, é estar flutuando num mundo inimaginável. E quando estou neste mundo, choro. Choro porque não acredito que mereça tamanha felicidade. Choro porque sei que a paixão vai passar e eu vou ficar só com a lembrança e, quem sabe, com um amor recolhido num recôndito do meu coração.
Choro também quando falo com Deus, nos momentos de intimidade e solidão. Quando estou grata ou quando estou precisando de ajuda, falo com Deus e percebo que ele me escuta. Isso me faz muito feliz e eu choro. Choro por saber que Ele existe, que Ele me entende, que Ele me ama e que eu o amo também.
Música me faz chorar. Música triste parece óbvio que eu chore. Mas eu choro quando ouço um forró, que é um ritmo tão alegre. Choro porque me lembra minhas origens sertanejas. Choro quando ouço música clássica, seja Mozart ou Vivaldi. Choro por comoção. As notas parecem mexer com minhas glândulas lacrimais e eu choro. Choro quando ouço um sambinha de Martinho da Vila. Choro quando ouço Buena Vista Social Club, Djavan, música latina, francesa, africana, árabe. Choro e amo chorar nessas horas porque sei que é amor. Eu amo música e amo chorar ouvindo música.
Assim é. Eu choro muito. Mas engraçado é que minha marca é o sorriso. Sorrio todo o tempo, mas acho que gosto mais de chorar. Chorar é mais profundo, mais íntimo, é enternecedor, vem das entranhas. Chorar não sufoca, libera, liberta. Chorar libera até o riso pra que ele seja menos superficial. Chorar é como orar: nos aproxima de nós mesmos para chegar até o outro. É cavar fundo. E como eu não gosto de andar na superfície de nada, cavo fundo com cada lágrima que vem dos meus olhos. Não importa se sou interpretada como frágil, emotiva ou fraca. Mergulho completamente no mar de minhas lágrimas e, quando volto à superfície, dou um sorriso apenas pra mostrar que sou feliz com as minhas lágrimas.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Simplesmente Bonita

Estava lendo o romance “A mulher que escreveu a Bíblia” no qual o narrador enfatiza a feiúra da personagem principal. Ela se diz horrível, mas sabe ler e escrever numa época em que só o rei e os escribas o sabiam. Essa história me perturba um pouco. Levantei, estava com dor de cabeça, acho que o sol e a cerveja... Então fui ao banheiro e me olhei no espelho. Minha surpresa: me achei linda. Mas não linda como todas as mulheres lindas. Me achei viva, vivaz, com um olhar profundo, um sorriso verdadeiro, uma segurança que nem sempre vejo em mim. Me achei bonita e disse: pôxa agora você está bonita!
Fiquei pensando no que conversávamos ontem (sábado) no almoço. Beleza é questão de ponto de vista. Mas sem dúvida nós mulheres queremos nos sentir bonitas. E eu não estou falando de ser bonita, mas de estar bonita, de se sentir bonita. E também não falo de uma compensação com a inteligência, porque no livro o rei ama a feia inteligente e come as belas. Assim é na vida: admira-se o feio por outras qualidades, mas o que se quer é estar perto do belo. É sentir o belo, tocar o belo, ter prazer com o belo.
Neste exato momento em que me olhei no espelho, vi uma Márcia que eu conheço muito bem, uma Márcia que por várias vezes com 20, 22, 25, 27 anos se olhava no espelho e pensava: sou uma graça, como sou delicada, sexy, bonita, charmosa, meiga, doce, inteligente, não nessa ordem necessariamente. Nessa época não havia espaços para dúvidas, porque o espelho me dizia, o biquini me dizia, os olhares masculinos me diziam. Tudo me dizia: Você é linda.
Com o tempo nós mulheres perdemos essa segurança. Eu perdi essa segurança. Talvez só eu passe por isso, sei lá. Mas eu passei bom tempo da minha vida tentando dizer que eu era mais que uma gostosinha que muitos queriam provar. Que alguns achavam meiguinha, carinhosa. Queria provar que era uma mulher capaz, inteligente e segura. Hoje que sei que sou essa mulher - em parte, é claro - sinto um pouco de saudade daquela menina que se olhava no espelho e se via linda, apenas linda. Hoje não queria provar nada pra ninguém, apenas queria me olhar no espelho e me ver como me vi há pouco: bonita, simplesmente bonita, com o cabelo preso, sem maquiagem, rosto limpo, com um pouco de cor na pele por causa do sol da tarde. Só isso. Sem preocupações pelos sinais na pele, da idade, do sol, do que seja. Sem preocupação pelos dentes tortos, as marcas de espinhas, as olheiras.
Seria bom ser vista sempre como uma mulher bonita, mas essa confiança não seria exatamente resultante do que eu sou ou de como eu estou no momento. Ela provém daquilo que o espelho me diz, quando olho para ele. E o que ele me diz depende da forma como estou me encarando a cada dia. Quando acordo com a auto-estima baixa me acho horrível, gorda, inchada, com olheiras. Não há santo que me diga que estou bonita, bem vestida, o escambau. Quando acordo bem, o espelho parece um homem lindo com flores nas mãos me dizendo: “Você está linda, minha rainha”. Sem nenhuma alusão à historinha infantil.
Quando acordo bem, não preciso me comparar com a Cicarelli ou a Gisele. Não preciso saber se neste reino existe alguém mais belo do que eu, porque minha beleza é incomparável, é única. É um estado de espírito. Sentir-se bonita vem de dentro. Todos sabem disso, até os homens que nos olham naqueles dias em que nos achamos o maior bagulho por fora.
Perdemos a segurança que o espelho nos dá, porque é visível que a juventude é bela. Não é sacrifício algum dizer para uma donzela de 13 anos ou uma moçoila de 19 anos ou uma senhorita de 25 anos que ela é bonita. A suavidade dos seus traços, até sua voz é mais bonita, delicada. Mas é preciso encontrar a beleza em outras fases da vida.
A maturidade traz a consciência de que a beleza também é efêmera, inconstante. A velhice deforma tudo. O que foi belo, na velhice se torna terrível, horrendo. Aí sim precisamos da compensação da qual falava um pouco antes. Compensamos essa perda da juventude com muita segurança, sem medos, com consciência de tudo a nossa volta. Mas é evidente que o passado deixa marcas e que sentimos saudade do que fomos, do que vivenciamos, de como éramos vistos.
Por isso que me olhar no espelho hoje e me ver bonita, me suscitou essa crônica. Sou uma mulher madura, forte, inteligente que neste momento se viu também bela. Bela como há algum tempo não se via. Bela como a natureza na primavera. Vibrante, convidativa, sedutora. Bela como a face sorridente de quem ler esse texto e se identificar. Bela como a vida.

sábado, 24 de novembro de 2007

Esta eu fiz pra um dos meus grandes amores:


O MUNDO DELAS (OU DELA)

Criança é um ser inatingível. Eu não consigo entender o que faz com que elas não parem quietas, parecem formiguinhas que não sabem pra onde estão indo. Correm pra cá, pra lá, se batem, caem, levantam. Assim é Yasmim. Ela tem quatro anos e eu a acompanho desde que nasceu. No início, um bebê de colo, linda, meiga e cheirosa. Como cheiram os bebês! Chegou como a coisa mais lindinha que eu já vi na minha vida. No aeroporto, toda de rosa, roupa de lã num dia fresco de outubro. Disseram que era porque no avião estava frio. Ela era diferente de tudo. Pra começar, toda criança vem de cegonha, ela veio de avião. Não mamou no peito, só de chuquinha. Não dormia de dia, passava o dia inteiro com o olhinho aberto nos olhando e à noite dormia doze horas seguidas.
Era um bebê risonho, ria de tudo e pra todo mundo. Onde ia era chamada de simpática, era engraçada. O primeiro dentinho nasceu aos quatro meses; andou com dez meses. Precoce não? No seu aniversário de primeiro aninho, recebia os convidados e pegava os brigadeiros da mesa pra comer, sozinha. Muito esperta essa menina.
Continua sendo peculiar: chupa chupeta, toma leitinho na mamadeira, usa fralda pra dormir. Já não é mais tão precoce assim. É diferente, mimada, chorona, gostosa.
Ainda me lembro do seu sorrisinho quando eu brincava:
- Jasminzinha de titia, jasminzinha...
Ela me chama de Teté, queria que falasse com cinco meses titia e ela só conseguiu me chamar de Teté. Até hoje sou Teté. Eu amo esse apelido, porque foi ela quem me deu.
Às vezes fica zangada comigo e me chama pelo meu nome. Ela é perfeita. Temperamental como a tia. Se fica zangada, chora, grita, esperneia e joga o que estiver na mão no chão. É malcriada como diria minha mãe. Mas se está feliz, parece apaixonada, abraça, beija, aperta, acaricia. É uma típica libriana: tende para os extremos. Faz amigos com muita facilidade, mas já estraga a amizade, porque não tem limite para o que vai falar ao amiguinho. Esperta, muito esperta: percebe diferenças, nota tristeza, alegria, tudo ao seu redor. É doce, muito doce, como seu nome sugere: a flor jasmim tem um doce perfume. Mas acho que sua maior virtude é a sua generosidade. Briga o tempo todo para ser a primeira numa disputa com o irmãozinho menor, mas se tem que dividir dá sem parcimônia. Acho que sua maior luta é contra o egocentrismo próprio da sua idade. Ela divide as coisas: comida, brinquedo, material escolar; ajuda os coleguinhas na tarefa da escola, porque acaba sempre primeiro que os outros.
Yasmim é uma fortuna. Um tesouro que parecia perdido e foi encontrado. É uma princesa, mas acho que esse título não faz jus ao seu estilo arrojado, de menina independente. Ela é uma linda plebéia, rainha do seu povoado, cigana da sua tribo. É adorável, aventureira, desobediente. Sempre testa as ordens antes de cumpri-las. O que todos consideram uma atitude preocupante, vejo como a salvação da mesmice do seu cotidiano no futuro.
Não é dada aos esportes, gosta de pula-pula e de parquinho. Mas isso não a faz diferente porque disso toda criança gosta. Já foi uma excelente dançarina quando bebê, mas agora tem preguiça. O que a torna diferente é o seu jeito comunicativo de ser, seu sorriso verdadeiro, sua carência de fazer amigos, sua necessidade de se apresentar ao mundo.
O mundo parece girar ao redor dela, mas não por ser egoísta, mas porque é carismática. Exerce um fascínio sobre os que a cercam quase inexplicável. É surpreendente e encantadora essa linda menina de olhos negros e cabelos enroladinhos. Vai crescer e se tornar uma linda mulher: inteligente, forte, meiga e linda, nessa ordem preferencialmente.

Não sangrou

"Não sangrou" foi minha primeira crônica. Eu chamo de crônica a um texto que escrevo baseado no meu cotidiano, inspirado na minha experiência e sempre tem uma carinha de carta. Adoro escrever esse tipo de texto.
NÃO SANGROU

Há coisas que parecem que nos atraem e nos chamam desesperadamente. O abismo quando estamos perto dele; um prato de comida quando estamos com fome; um homem atraente quando estamos com tesão. Pois é, há dias estou me sentindo atraída por algo que me cutuca desesperadamente. Eu não sei como explicar.
Para fugir desse desejo, faço de tudo, trabalho um bocado, leio muito, saio para passear, vejo um filme. Mas nada, nada, me afasta dessa vontade.
Acho que isso é um apelo provocado por um vício que me corroeu durante dois anos. Comecei sem nenhuma vontade, na metade desistia, parava. De repente me empolgava e fluía de tal maneira que eu não conseguia controlar. Eram bons os resultados e eu me empolgava cada vez mais. No final do período de dois anos, lá estava eu fazendo planos para uma próxima jornada. Como uma coisa que pode nos fazer sofrer tanto, pode nos trazer tal expectativa de felicidade? Como posso ser feliz se não estou fazendo a coisa que mais tenho ganas de fazer na minha vida no momento.
O trabalho só não me satisfaz. Eu gosto do que eu faço, mas acho que preciso de mais. A diversão é algo natural pra mim que faço da minha vida um parque de diversões. O amor, esse não dura pra sempre, então acho que não vale a pena apostar nele como algo que possa nos satisfazer. O que pode dar ao homem tanto prazer, senão a satisfação da sua necessidade artística?
É disso que falo. É de algo provocante, instigante e ao mesmo tempo massacrante. É dessa necessidade de ser um artista, de reverter o cotidiano em algo suportável. Isso se tornou uma necessidade para mim há poucos meses. E eu venho sendo insistentemente provocada por uma vontade louca de fazer o que sei que tenho que fazer. Escrever. É isso que quero, é disso que preciso. Preciso usar as mãos, a máquina, o pensamento e colocar pra fora em palavras escritas essa minha vontade. Preciso insistentemente escrever. Se saberei fazê-lo, não me importa, mas eu preciso. Há dias que me levanto e vou até o computador com a intenção de começar, mas um medo me invade. E se eu não conseguir chegar até o fim? E se sair um texto horrível, mal acabado. Quem vai ler? Eu vou parecer ridícula.
Tudo bem. Hoje venci o medo. Aqui está minha primeira crônica. Meu texto inaugural. Fui desvirginada de maneira tranqüila, num sábado de outubro, quando parecia que não tinha nada para fazer. Não doeu, não sangrou e foi melhor do que um prato de comida, um abismo ou um sexo com um homem bem atraente.

O Tarô

Pela primeira vez na minha vida foram lidas para mim cartas de tarô. Fiquei até emocionada porque vi coisas muito bonitas sobre mim, respostas muito simples a minhas indagações. Estou encantada. As deusas de várias mitologias simbolizaram para mim beleza, feminilidade, sexualidade, compaixão, amor, fertilidade etc. Tudo metafórico, mas para mim que sou uma mulher das metáforas serviu como uma luva. Adorei.
Além disso, fumei um charuto cubano.
Que delícia.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Tenho fases como a lua.

Minhas crônicas

Aqui vou começar a minha carreira de escritora. Vou colocar os textos que estão nas pastas do meu computador e dar oportunidade a que me leiam, se é que possível.

Auto-fotografia

Auto-fotografia
Agora em Paris

La Giralda

La Giralda
Sevilla

Até que não foi mal, mas foram muitas tentativas

Notre Dame

Notre Dame
Muitas etnias

A meus pés

A meus pés
Não às Havaianas

Minhas amigas

A água é potável, você pode beber!

Tapas, pinchos, cañas y chupitos

Tapas, pinchos, cañas y chupitos
Victoria, Richard, Manuela y yo

Anna e eu em Barcelona

Anna e eu em Barcelona

Toledo

Toledo
Olhando para o Alcazar de Toledo, de costas para um monastério

Juan, Manuela, Victoria y yo

Juan, Manuela, Victoria y yo
Éramos siempre cinco

Minha amiguinha Mari

Minha amiguinha Mari
Saudades das nossas gargalhadas

Nil e eu

Nil e eu
Show da Rita Lee, tudo de bom!

Anna, la italiana

Anna, la italiana
No Hora Extra

Ela é demais

Ela é demais

Preto e branco

Preto e branco
Maças salientes

Rojo, rojísimo

Rojo, rojísimo
Contraste entre o natural e o artificial

Toda menina baiana...

Toda menina baiana...
...tem um encanto que Deus dá.

Yasmim ou Jasmim

Yasmim ou Jasmim
a flor mais bonita deste jardim

Jucas e Marina

Jucas e Marina
descarado...

Sensação indescritível

Sensação indescritível
Morri de medo, mas o medo faz bem, supera outros sentimentos talvez piores rs

Eta mistura porreta

Eta mistura porreta
meus sobrinhos

Que guapo ese chaval

Que guapo ese chaval
Banderas y un puro

Hay de todo en La Habana

Hay de todo en La Habana
Los pioneros de Fidel